Uma coisa que tenho em comum com todos os amigos que recentemente migraram para as newsletters é: quando nada mais funciona, ainda podemos recorrer à escrita. Sempre foi assim, embora eu tenha demorado demais para me dar conta. Me sentia mal depois de brigar com alguém? Pegava o caderno que supostamente ninguém além de mim leria e colocava tudo nas páginas. Sonhava em me mudar para uma cidade grande bem longe dali? O caderno. Era a única forma de processar.
Mas falar de si não é tarefa fácil quando outras pessoas vão ver — é estranho como, ao mesmo tempo, parece que só faz sentido externar esses sentimentos e medos quando eles podem encontrar sentido em outras pessoas. Então você fica em um misto de querer que alguém leia e querer que ninguém nunca leia. Vai entender.
Desde o meu último aniversário (31 anos!), em fevereiro, sinto que as coisas vêm fugindo do meu controle de uma forma desesperadora. Neste momento, já não consigo dormir, acordar, comer, trabalhar, estudar, me exercitar, nem me divertir — veja bem, não é que não consigo fazer todas essas coisas, é que não consigo fazer nenhuma delas. Continuo tentando e falhando miseravelmente. Estou apavorada com a perspectiva de que isso me custe meu novo e tão sonhado emprego, no qual estou deixando a desejar. E a grande questão é que, na prática, não mudou nada. Ou quase nada. Uma obra nova começou no bairro e a chuva faz a energia cair todo dia, mas só. O que é mais uma obra quando estou há quatro anos ouvindo marteladas e britadeiras diariamente na minha janela?
Talvez o problema seja exatamente esse: gostaria que alguma coisa tivesse mudado, ou que a essa altura da vida (31 anos!) já estivesse vivendo em condições que considero mais apropriadas. Talvez tenha simplesmente atingido meu limite, e o aniversário tenha sido o momento simbólico em que tudo isso veio à tona. Talvez seja só culpa de uma falta de força de vontade minha. Talvez a astrologia explique, ou talvez até seja um reflexo da nossa geração neste ano de 2023. Não sei.
O que sei é que a obra do apartamento novo atrasou, adiando ainda mais meu sonho de mudança, e em uma semana tive mais surtos por limpeza que nos últimos oito anos. Logo eu, que não sou nenhum exemplo de disciplina. E fico fugindo dos conflitos que poderiam resolver esses problemas porque vejo que meus amigos não estão em um estado mental e físico muito melhor que o meu. Não seria justo falar de uma forma que pareça jogar demais nas costas deles quando é um problema nosso, generalizado, e eu nunca encontro a forma certa. Fujo de brigas porque gosto demais de brigar.
A boa notícia é que esse momento me tornou antissocial novamente, então voltei a ler e ver ao menos alguns dos meus draminhas enquanto ignoro cerca de 75% de todas as mensagens que recebo.
Juro que não é pessoal e que vou te responder quando tiver energia.
Nesse desespero para me sentir bem de novo, pelo menos estou agindo. Finalmente tenho um remédio para ansiedade, ainda que um fitoterápico. Comprei melatonina novamente. Vou começar a consultoria financeira com um amigo que me identifico e admiro que só, o Fred. Estou criando coragem para me desfazer das coisas que precisam ir embora e consertar as coisas que precisam ser consertadas, embora seja desanimador fazer isso sozinha. Decidi pedir ajuda a pessoas menos óbvias ao meu redor. Cheguei a ir à academia três vezes na semana antes de desandar mais uma vez, o que foi grande progresso para uma sedentária crônica. Tenho o projeto do apartamento novo em mãos e posso ir atrás da minha mesa personalizada da Nerd Bruto.
Além disso, o mês de março é facilmente um dos mais movimentados desde julho do ano passado, quando tinha um casamento ou formatura por semana e viagens semanais a trabalho. Mas dessa vez tenho shows, musicais, e quedas de energia semanais em casa.
E é uma pena que eu tenha afundado tanto a ponto de não conseguir aproveitar algumas dessas coisas. Fui comer minha comida favorita, mas o sentimento que ficou foi frustração por ter pagado caro demais nela. Realizei o sonho de ver um show incrível, mas na hora estava tão incomodada com as pessoas ao meu redor que a experiência foi péssima. Por aí vai.
Então aqui vai um breve resumo dessa primeira metade do mês. Ao menos da parte boa. Espero que falar sobre ela me faça valorizar a existência de uma parte boa.
As próximas vão ser mais curtas, eu prometo.
três vezes em shows em menos de uma semana
Um feito inédito na minha vida, embora época de Rock in Rio seja movimentada no circuito paulistano e já tenha chegado perto. Em 2015, cheguei a ver System of a Down e Nightwish em dias seguidos, e em 2019, o combo Rockfest + Bon Jovi + Rock in Rio aconteceu em pouco mais de uma semana.
Mas março de 2023 está outro nível. No fundo, é por isso que não saio de São Paulo.
4 de março, centro esportivo tietê: festival grls!
ou: mais um espetáculo da maior cantora do brasil
A perspectiva de ir a dois shows da Sandy em um espaço de pouco mais de seis meses deixa a Jéssica adolescente a ponto de chorar de emoção. E foi só pra isso, por ela, que resolvi usar parte dos créditos acumulados com o calote da Taylor Swift para ir ao Festival GRLS! — e valeu cada segundo.
Esse, aliás, é o tema da próxima newsletter.


7 de março, allianz parque: mötley crüe e def leppard
ou: como pode eu gostar tanto desses caras?
Lá atrás, nas minhas andanças pelo Orkut, resolvi que seria divertido participar daqueles joguinhos de “aumenta ou desliga?” que rolavam em comunidades de música. Foi numa dessas que fiz amizade com o Rapha. Já tem bem uns quinze anos que não faço ideia de por onde anda o Rapha, mas na época em que conversávamos diariamente no MSN ele me apresentou Mötley Crüe, então serei eternamente grata.
Se você sabe qualquer coisa sobre o Mötley Crüe, acho que é seguro dizer que você sabe tudo sobre o Mötley Crüe. Cerca de 90% do catálogo dos caras é uma celebração do estilo de vida estereotipado do astro de rock dos anos 1980, que no caso deles não era e nunca foi apenas um estereótipo: a vida deles era resumida a sexo, drogas, e rock ‘n’ roll. Da forma mais suja possível. Acho que eu me recuso a aprender as letras até hoje por medo de odiar todas — exceto o hino “Home Sweet Home”, a balada que abriu espaço para tantas outras grandes baladas de metal.
É brega, é sujo, é estereotipado, é machista até o último fio de cabelo, tal qual a maioria de seus integrantes. Mas, apesar disso, a real é que eu adoro Mötley Crüe. Então, quando foi anunciado que a turnê conjunta deles com o Def Leppard (que conheci pouco depois através daquele CMT Crossroads da Taylor) passaria pelo Brasil, decidi que tinha que ir e pronto. Vai que encerram as atividades outra vez, né?
Corta para um dia depois do show, e eu já estou em 20% de The Dirt, a autobiografia da banda. A próxima newsletter, depois da Sandy, é sobre eles.
10 de março, estádio do morumbi: coldplay
ou: taylor swift pelo amor de deus never come to brazil
Coldplay facilmente entrega um dos melhores shows que já vi na vida. Além de uma estrutura colossal e sem igual, eles têm energia, talento, carisma, respeito pelos fãs, e uma forte dedicação a fazer do mundo um lugar um tiquinho melhor. Ao longo das duas horas e meia no palco, correm pra lá e pra cá, interagindo diretamente com o público em todo canto do estádio, trazem convidados especiais, puxam fãs para o palco, conversam. As pulseiras se iluminam nas mais diversas cores e criam um espetáculo paralelo. Estrelas de papel caem do céu.
Mas isso tudo tem um preço.
O sentimento que me tomou durante a maior parte do show (exceções: “In My Place”, “Yellow”, “People of the Pride”, e “My Universe”, aquelas que me emocionaram o suficiente para abstrair) foi um total e completo desespero com a possibilidade de Taylor Swift algum dia superar a preguiça da América Latina e vir fazer um show aqui. Vai ser daí pra baixo. É melhor ela continuar sem vir.
Tudo sobre a alegria e a dor de estar na pista premium do Coldplay sem estar na grade eu conto em outra newsletter futura.

bônus — 12 de março, teatro tuca: improvável
ou: trago o sorriso de volta às depressivas em cinco minutos
Essa foi a terceira vez que vi os Barbixas ao vivo com o Improvável. A primeira, mais de uma década atrás e ainda em Aracaju, teria sido suficiente pra mim, embora a natureza do improviso torne cada sessão um espetáculo completamente diferente. Mas ver os Barbixas ao vivo se tornou uma espécie de programa de família aqui no Subsolo, já que meu namorado e meu amigo que mora comigo são completamente obcecados pelo grupo. Às vezes a gente ouve uns gritos tão altos que um deles parece estar passando mal, mas é só o som da risada provocada pelo último “Frases” ou “Cenas Improváveis”. É até chato quando se está tentando trabalhar no quarto ao lado, mas isso não vem ao caso no momento.
Tudo acabou dando um pouco errado. Nós três, gênios que somos, compramos os ingressos no final de janeiro, acho, e nenhum dos três se atentou ao fato de que a temporada nova não seria em fevereiro. Depois do constrangimento de chegar lá um mês antes, ainda percebemos que compramos para uma data em que a maioria tinha compromisso. Alguns e-mails sentimentais resolveram parcialmente o problema, mas acabamos nos dividindo em dias diferentes. Uma confusão.
Quando o dia (certo) chegou, eu estava tão mal que nem sabia se queria me divertir e jurei que não conseguiria rir, mas felizmente o monólogo já acabou com o problema. Sofisticado e idiota na mesma medida, o humor dos Barbixas segue uma boa pedida — mas tem que ser lá, ao vivo. Gravado não tem em mim o mesmo efeito que tem nos homens desta casa.
próximos eventos:
18/03: Skank (Espaço Unimed)
24/03: Bonnie & Clyde (003 Rooftop)
30/03: Wicked (Teatro Santander)
E quero providenciar ingressos pro Once assim que possível.
os jogos finalmente vão desencalhar! (espero)



Finalmente organizei, precifiquei, fotografei, e anunciei os jogos de mesa que estão parados aqui em casa e já deveriam ter sido vendidos há muito tempo. Muito tempo. Alguns deles eram parte da coleção de um amigo, que largou tudo aqui em casa há dois anos e meio jurando que ia vender e pedir para as pessoas retirarem aqui — o que já vimos que não aconteceu. Outros, os da minha própria coleção, não emplacaram com os amigos, envelheceram mal tematicamente, ou ficaram enjoativos. Mas, como infelizmente tenho tendência a ser acumuladora, convenhamos que só estou vendendo porque não vão caber no apartamento novo e não pretendo parar completamente de comprar jogos.
Nesse processo, a coisa mais importante que eu aprendi, embora minhas amigas já tenham me alertado desse problema antes, é que as taxas que o Enjoei cobra são caríssimas. Fazendo simulações para receber por lá o mesmo que receberia vendendo direto, chegou a aumentar em R$100 reais o preço de alguns jogos. É insano. De qualquer forma, a relação completa de jogos e preços tá em um destaque no meu Instagram, e as lojinhas no Enjoei e na Ludostore estão no ar. Meia dúzia de outras caixas deve entrar para essa lista em breve, a depender de como as coisas se desenrolarem por aqui. Qualquer coisa, é só dar um oi.
o ludohall é tudo que eu queria de um aplicativo
Finalmente comecei a usar o LudoHall recentemente e até me arrependi de não ter baixado antes.
Nele eu posso cadastrar todas as minhas partidas com detalhes incluindo o lugar da jogatina, ver estatísticas detalhadas de cada jogo da minha coleção, e até realmente acompanhar desafios como o famoso 10x10 (10 partidas de 10 jogos).
Pra me adicionar lá, segue o QR:
k-dramas da temporada



vendo: The Heavenly Idol (tvN/Viki)
Kim Min-kyu (ou Min-gue, dependendo de quando você começou a acompanhá-lo) interpreta um alto sacerdote com poderes divinos que é transportado para o nosso mundo no corpo de um idol de k-pop. Agora, ele tem duas missões: se tornar o maior idol de todos para desfazer a troca e conter os ataques do diabo, que também foi transportado para esse mundo — e fica difícil saber qual missão é a mais difícil.
The Heavenly Idol é tão divertido quanto eu esperava. O meu detalhe favorito é que os poderes divinos são recarregados consumindo quantidades exorbitantes de açúcar. Ansiosa para ver no que essa bagunça vai dar. Adaptado do webtoon Holy Idol, começou em 15 de fevereiro e termina em 23 de março.
vendo: Crash Course in Romance (tvN/Netflix)
Esse aqui é tão divertido que já aproveitei madrugadas de insônia pra ficar em dia. Crash Course in Romance é aquela mistura de comédia, romance e suspense que qualquer fã de k-drama já se acostumou a encontrar, bem do jeito que eu precisava. Começou em 14 de janeiro e terminou em 5 de março. Na Netflix Brasil, com o nome Intensivão do Amor, dois episódios novos chegam todo domingo até 26 de março.
vendo: Call it Love (Disney+/Hulu/Star+)
Depois de meses de tortura, a Disney vem começando a entrar nos eixos no que se trata de k-dramas. Call it Love, um melodrama original da plataforma, está sendo exibido simultânea e oficialmente por aqui com o nome Isso se Chama Amor, com dois novos episódios às quartas feiras. Começou em 22 de fevereiro e termina em 12 de abril.
ainda preciso começar:
Agency
Delivery Man
Divorce Attorney Shin
Island
Oasis
Pandora: Beneath the Paradise
Woman in a Veil
(e todos os que sobraram das temporadas anteriores)
apanhado do mês (até agora)
3 dias de shows
1 ida ao teatro
7 jogos de mesa jogados
5 dias em que a energia caiu no meu horário de trabalho
2 fugas para trabalhar no café do shopping
7 crises depressivas
45 reproduções em “The Dirt (Est. 1981)”
10 novas velas aromáticas em casa
1 newsletter saindo do forno
texto escrito ouvindo a playlist que preparei para todos os shows de março 🎧