i walk beside you wherever you are
jogos cooperativos, rpg, consoles galerosos, e tudo o que devo aos meus amigos nesse mundo nerd.
Não fui exatamente popular nem exatamente excluída na escola. Só era inteligente da forma que o sistema queria e um pouco esquisita — coisas que sou até hoje. Mas eu gostava da escola, embora não sinta nenhuma falta dela, e o último ano lá foi um dos mais divertidos da minha vida.
Meus colegas favoritos, de longe, eram as meninas da fila da frente e os meninos da fila do canto. Você sabe exatamente quem são eles. As pessoas do primeiro grupo, na verdade, nem sempre eram meninas. Mas quase sempre eram. Elas chegavam cedo, prestavam atenção, anotavam tudo, gostavam de ler, tiravam notas altas, e, em maioria, eram tímidas. As do segundo grupo muitas vezes não eram tão tradicionalmente comprometidas com a escola e não gostavam do ambiente, mas levavam do jeito delas. Frequentemente jogavam Magic ou um Game Boy nos intervalos e também eram tímidas. Com o primeiro grupo eu trocava figurinhas sobre livros da Meg Cabot; com o segundo, sobre jogos e bandas de metal.
E o terceiro ano do ensino médio foi perfeito porque minha turma era basicamente composta por esses dois grupos, incluindo alguns dos meus amigos mais antigos e algumas amizades mais recentes que tinham mudado minha vida. Nos tornamos um grande grupo que, após algumas mutações, perdura até hoje. Alguns dos meninos estudaram comigo na faculdade enquanto eu era de exatas, e hoje todos nós somos um pouquinho de tudo.
Se eu existo de alguma forma neste mundinho nerd, é por causa deles.
“Por tudo o que vier e tudo o que se for, eu ando ao seu lado.”
Sempre gostei de jogar, mas mais no PC ou na mesa. Nunca fui muito adepta dos jogos solo de console, inclusive porque não tive consoles nem a oportunidade de criar o hábito na infância, e demorei uma eternidade para entender isso — que realmente não era a minha praia, que estava tudo bem, e que não me tornava uma jogadora inferior.
Quando meus amigos me apresentaram WoW, que posteriormente nos levou à obra-prima Guild Wars 2, eu não saberia dizer o que era um MMORPG, mas sabia que gostava daquilo. Tinha bastante em comum com o The Sims que jogava antigamente, mas era mais interessante e podia jogar junto com meus amigos. O fator social é o mais importante. Quando eles viciaram em jogos de console, já me senti um pouco mais afastada — ainda era interessante, mas lá no fundo, mesmo antes de entender o porquê, eu sabia que seria difícil me encaixar nessa conversa se não fosse em um Smash ou Guitar Hero. Jogo de galera. As meninas odiavam, abominavam, quando as conversas nos nossos rolês envolviam jogos, e diziam que só se falava nisso. Eu não conseguia convencê-las do contrário, mas conseguia marcar reuniões na casa dos meus pais para todos esses mundos conviverem em paz.
Sempre que eu marcasse algo lá, ou no salão de festas do saudoso Bahia Sol, pode apostar que teria um Wii rodando Super Smash Bros. Brawl para oito pessoas ou Guitar Hero em um canto e uma mesa com um quebra-cabeça de mil ou duas mil peças em outro canto. Monopoly Deal e Uno de reserva. Assim, conseguiria agradar a todos e me divertir de todas as formas.
Mas eis que, um ou dois anos depois do Monopoly Deal, a coisa muda completamente de figura quando os meninos conhecem (e nos apresentam) Munchkin.
E eu contei essa historinha toda porque…
finalmente vamos falar de pandemic
Devo a Artur e principalmente Gustavo, que deve estar lendo este texto (oi, Gusta!), a minha introdução e imersão no mundo dos jogos de mesa modernos. Pouco depois do Munchkin eles foram conhecendo títulos como The Resistance, Dixit, Pandemic, Ticket to Ride, Catan, Carcassonne, Game of Thrones. E eles tinham o que eu não tinha: recursos para colocar esses jogos na nossa mesa e apresentá-los para todo o grupo.
Por muitos anos eu dependi desse acesso dos meus amigos para jogar, até finalmente começar a trabalhar onde trabalho hoje e poder investir na minha própria coleção. Não que isso seja um problema, porque em muitos aspectos nosso gosto para jogos é bem parecido e nós confiamos o bastante um no outro para emprestar as coisas livremente. Inclusive, sou muito grata por ter amigos que só queriam apresentar as coisas que eles gostavam às pessoas que eles gostavam, sem fazer distinções de gênero ou de quem era mais ou menos nerd. Isso faz muita diferença.
Mas nós não moramos mais na mesma cidade há alguns anos, então a autonomia fez falta por um tempo. Acho que nenhum deles ficou tão obcecado pelo Pandemic quanto eu, então também sou a única a ter a coleção dele quase completa. Venham jogar comigo!

O real gatilho pra esse tema é que, após seis anos, o Pandemic: Iberia acabou de chegar no Brasil. Ele é o primeiro de uma série de jogos que transportam o “sistema Pandemic” (já explico) para momentos históricos: Iberia em 1848 na Península Ibérica, Rising Tide na Revolução Industrial nos Países Baixos, e Queda de Roma no Século V no Império Romano. Originalmente, esses títulos seriam edições limitadas lançadas na época dos campeonatos Pandemic Survival, e por isso mesmo se chamavam Survival Series. Mas agora a linha inteira foi reformulada e a limitação não existe mais — edições mais recentes dos jogos perderam o “Pandemic:” no título, por exemplo.
Pandemic é um jogo simples, tanto que funciona como jogo de entrada pra muita gente, mas pode ser difícil de ganhar. Não recomendo jogar em apenas duas pessoas. Frequentemente cito uma frase que o Wil Wheaton disse em seu programa Tabletop porque nunca me esqueço dela: “já me diverti mais perdendo esse jogo que vencendo muitos outros”. E o Iberia é, apropriadamente, ainda mais difícil. Ele é mais difícil porque se passa em uma época em que a tecnologia não era tão desenvolvida e havia muito mais limitações, uma sensação transmitida para o jogador com sucesso. Eu demorei para conseguir vencer, só venci uma partida até hoje, e muitos fãs acreditam que seja o melhor da série.



Digo “série” e “coleção” porque, ao longo dos anos, Pandemic se tornou uma série com cerca de 20 títulos. Quem estiver chegando hoje no mundo dos jogos de mesa deve se sentir um tanto perdido, sem saber se são todos independentes ou qual é a diferença. Três deles (À Beira do Caos, No Laboratório, e Estado de Emergência) são expansões do primeiro, e outros seis são versões temáticas (WoW, Star Wars, Cthulhu) ou históricas (a Survival Series) partindo do mesmo sistema do original. O sistema, explicando de forma bem simples, consiste em coletar cinco cartas de cada cor ao longo da partida e levá-las a pontos específicos do mapa um certo número de vezes, enquanto se tenta impedir as várias condições de derrota que avançam a cada rodada. Tudo isso em equipe, de forma cooperativa.
Sistema Pandemic é o nome que se deu a essa série de jogos mecanicamente inspirados no Pandemic. Pensa no Banco Imobiliário temático de qualquer coisa, que funciona exatamente igual ao original, mas tem umas referências divertidinhas e um visual diferente. É quase isso, só que sem ser exatamente igual.
Todas essas versões têm alterações, que adaptam o sistema a algo que faça sentido tematicamente. Iberia é tematicamente parecido, mas se passa em uma época menos globalizada e isso afeta profundamente o ritmo da partida; Cthulhu traz a tarefa de fechar portais antes que o ancião desperte, progressão parecida com a de outros jogos Lovecraftianos; Rising Tide pede que você construa estruturas hidráulicas para impedir que os Países Baixos afundem, cada uma delas concedendo um bônus diferente.
O fato de os spin-offs funcionarem mostra duas coisas: a primeira é que o sistema é bom mesmo, não tem pra onde correr, e a segunda é que, apesar do capitalismo, não se faz esses jogos só por fazer. Outro dia esbarrei em um tópico lá na Ludopedia que basicamente comparava a série Pandemic com a série Ticket to Ride, e seus respectivos designers, para mostrar que um está estagnado e o outro em constante movimento. E é verdade.

Pandemic tem versão que troca as cartas por dados, tem versão em tempo real, tem aclamadas versões legacy que são jogadas em várias sessões como campanhas, tem mais de uma versão “express” que simplifica o jogo base para sessões mais rápidas e iniciantes. Tem até uma versão competitiva, que inverte completamente a dinâmica. E a única ruim é a versão digital. Às vezes as pessoas me perguntam qual é o melhor para conhecer, ou comentam que não gostam do original e perguntam se tenho outra indicação, e a resposta é muito particular.
Mas no caso do Ticket to Ride, se você não gostar do original, é muito provável que não vá gostar de nenhum: em 20 anos, quase não existe inovação temática ou mecânica. Quase todos são jogos de trenzinho cuja única diferença é o mapa. Divertidos, mas iguais. Se o Pandemic for o Linkin Park, então o Ticket to Ride é, sei lá, o Slayer ou AC/DC.
e o filme do d&d faz tudo
Veja bem, eu nem gosto mais de filme. Desde 2019 ou 2020, sou praticamente incapaz de ver um filme inteiro sem dar um cochilinho de cinco minutos que seja. Já não jogo mais RPG desde que desisti de acompanhar o ritmo de completa insanidade dos meus amigos em 2018. E tantas adaptações cinematográficas medíocres de obras existentes me deixaram calejada. Eu não esperava muita coisa além de algumas risadinhas quando entrei na sessão de Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes. Paguei a língua.
O filme não se leva a sério em momento algum, representando de forma fiel a parte mais legal de qualquer mesa de D&D: a diversão. É divertido, em vários momentos parece uma campanha de verdade, e representa de forma fiel como é chato lidar com paladinos. E, é claro, ainda rende uma boa viagem por regiões clássicas que a maioria dos jogadores vai reconhecer — incluindo o Subterrâneo (Umbreterna), onde se passa um dos meus jogos de tabuleiro favoritos.
Depois de tantas desventuras e tantos anos sentindo sono no cinema, Honra Entre Rebeldes foi uma surpresa incrível. Cinco estrelas e favoritado porque eu sou uma nerdinha emocionada, mas os nerdinhos mais emocionados ainda que estavam na fileira atrás de mim com certeza diriam a mesma coisa.
o mês do agust d
Faça um favor e vá ouvir Agust D.
A cada novo trabalho, o Yoongi se consolida como um dos meus artistas favoritos. Como cantor, rapper, letrista, e produtor. O principal fator é a honestidade das letras, por vezes ácida e por vezes triste, mas sempre cheia de boas sacadas. E eu acredito que ele seria capaz até de produzir um álbum do Nightwish se quisesse.
Ele chegou a comentar, um tempo atrás, que achava que precisava diversificar seu repertório solo para sair em turnê. Pode ser um sentimento que surgiu por se comparar com colegas como o j-hope, tão incrivelmente versátil que é covardia, mas de fato a diversificação aconteceu. “That That”, colaboração com o lendário PSY, foi o maior indicativo.
Agora, em uma espécie de sequência de “People”, da mixtape D-2 de 2020, ele convida ninguém menos que a IU para cantar o refrão. Essa foi a faixa de pré-lançamento do álbum D-Day, que sai em 21 de abril junto com um documentário no Disney+. Depois, ele já entra em uma turnê que é um assunto muito delicado pra mim. Tudo isso só no mês de abril.
Se você não é muito de rap ou não vê tanto apelo em músicas aceleradas em idiomas que não entende, “So Far Away” (da mixtape Agust D de 2016), “Dear My Friend” (D-2), e a própria “People Pt.2” (D-Day) são ótimas pedidas para começar.
apanhado da quinzena
2 expedientes no café
2 ovos de Páscoa
1 jogo vendido
1 jogo comprado
1 playtest de jogo
4 crostatas de banana do Abbraccio
1 retoque na cor do cabelo
3 eliminações injustas no BBB
1 nova foto de perfil
50 novas ideias para o BG das Minas
texto escrito ouvindo “People Pt.2”, “So Far Away”, “Vigilante Shit” e “I Walk Beside You” 🎧